O MEU CRISTO PARTIDO
Nesta meditação, vou contar uma história simples, própria para ser contada a meia luz, enquanto as crianças dormem, sonhando com anjos, ou sem sonhar.
Enquanto muitos homens dormem, cansados do dia a dia ou cansados da VIDA, e oxalá que esta história, como um conto simples, nos comunique com o bom sono, sem sobressaltos e nem insônias.
O título da história é: “Compra e Venda de Cristos.” O protagonista é o Meu Cristo Partido.
Antes porém, quero dizer, como que me permitindo, nesta hora de intimidade, a duas confidências. Uma é que me encanta ir ao “Mercado de Antigüidades” quase tanto quanto ir ao cinema, ou ao teatro, porque no mercado de antigüidades saboreio um espetáculo vivo, muito embora, seja uma dolorosa tentação para a vista que o bolso não pode pagar, mas mesmo sem poder, sempre caio na tentação de comprar alguma coisa.
A outra confidencia é que, dentro da arte, me seduz muito o tema de “Cristo na Cruz”. As minhas preferências vão para os Cristos barrocos, finos, elegantes, aristocráticos, menos musculosos que os Cristos castelhanos, que são robustos e atletas. Prefiro os mais esbeltos e intelectuais. Não sei o que daria para possuir um Cristo assim, feito por um Grande Artista.
Digo tudo isto, para explicar porque sou assíduo visitante do Mercado de Antigüidades, é para ver se encontro um Cristo pequeno, de boa talha e barato.
Nunca porém, consegui encontrar nenhum nestas condições que eu procuro. Sei que é difícil, mas apesar disso, recaio sempre na tentação. A última vez foi no mês passado, em companhia de um bom amigo que anda também em busca de um Cristo, ou melhor, em busca de Cristo.
Incorporamo-nos primeiro, no rio tumultuoso do Mercado de Antigüidades, uma torrente humana, de vagas desencontradas pelo centro da rua, entre dois tapumes de tendas, em que se exibem no passeio, em mesas ou caixotes os mais diversos e inverossímeis objetos. Tudo ali se mistura.
E Cristo nos dá sempre uma lição. Pode encontrar-se entre pregos, sucatas enferrujadas, roupas velhas, sapatos, livros, bonecos partidos ou fotografias românticas. É difícil saber procurar, porque Cristo anda e está entre todas as coisas deste tumultuado, revolto e inverossímil mercado, que é a VIDA.
Naquela manhã, porém, nos encontrávamos entre estas tendas. E nos aventuramos a ir até a Casa do Artista. É mais fácil encontrar ali Cristo, mas é muito caro, porque lá já é zona do Antiquário. É o Cristo com imposto de luxo. O Cristo encarecido pelos dólares dos turistas, porque desde que se intensificou o turismo, Cristo também está mais caro.
Entramos com prevenção e cautela, pois naquele setor internacional é perigoso.
Visitamos inutilmente duas ou três lojas, e nenhum Cristo acessível. Andamos pela terceira ou quarta loja e, confesso; me sinto bem no meio desta deliciosa desordem de coisas belas, ricas e nobres, tendo cuidado para não tropeçar numa porcelana aqui ou pisar num baixo relevo ali.
Até que alguém se aproximou:
Êh ! Deseja alguma coisa ? Perguntou-me o obsequioso antiquário.
Dar apenas uma volta, observar. Eu respondi.
Então por favor, entre e veja !
E eu caminhava sobre as pontas dos pés naquele universo encantado. Porcelanas, tapetes, talhas, mármores, azulejos, cerâmicas e santos, santos, muitos santos de todos os tamanhos, estilos e procedências.
Parecia uma liquidação de santos. A santidade posta à venda ! Nunca se negociou tanto com eles. Não pelo que tem de santos, mas pelo que tem de belos ou exóticos. É um sinal de época, e nunca se falsificaram tantos santos, nem tantos anjos. Estão na moda os anjos barrocos como motivo de ornamento. Da altura gloriosa de um retábulo, caíram no servilismo humilhante de sustentar uma lâmpada elétrica. E hoje, que tanto escasseiam os anjos de carne, povoamos de velhos anjos, policromos, a decoração de casas, hotéis, pousadas de turismo e… Quantos anjos caídos !
Pensava em tudo isso, quando de súbito, à minha frente, pousado numa mesa, vi um Cristo sem cruz. Ia lançar-me sobre ele, mas parei num ímpeto, para não revelar meu interesse por aquele objeto, sob o olhar do antiquário, que seguia todos os meus movimentos, dissimulei, dei a volta e aproximei-me de novo discretamente.
Olhei o Cristo de soslaio. Ah ! Conquistou-me desde o primeiro instante. Claro que não era o que eu procurava. Era um Cristo todo Partido.
Pareceu-me porém, boa esta circunstancia.
Não sei porque, fingi primeiro ter interesse pelos objetos que o rodeavam, pegava-os, e os largava de imediato: um marfim, uma miniatura.. até que as minhas mãos se apoderaram do Cristo. Dominei os dedos para não acaricia-lo.
Não me haviam enganado os olhos, não devia ter sido Cristo muito belo ! Porque quase… quase não era um Cristo. Era um impressionante despojo mutilado. Nem sequer tinha cruz, faltava-lhe meia perna, um braço inteiro, e embora conservasse a cabeça, tinha perdido o rosto.
Mas no que restava daquele belo corpo, havia tais proporções de tão serena e perfeita anatomia, tal elegância de tronco e pernas, e tão sobriamente talhado era o pano da cintura que, desde o primeiro momento me decidi a ficar com ele.
Continuava porém a pensar. Será que é muito caro ? Impossível, porque está todo partido ! Terá notado o antiquário o meu interesse e quererá aproveitar-se ?
Terei que ficar sem esse Cristo por falta de dinheiro ? É, já me aconteceu tantas vezes…
E perguntei ao antiquário, vários preços de outros objetos que estavam em volta até que:
– E isto, quanto vale ?
Não me atrevi a chamar-lhe de Cristo. Estava tão mutilado… era quase… mais, mais coisa do que um homem !
Perguntando assim, talvez eu conseguisse um preço mais baixo. Mas enganei-me, porque o antiquário pegou o Cristo Partido e disse:
É uma peça magnífica ! Se vê que você tem bom gosto. Veja a esplendida talha, este Cristo, sem dúvida, é de um bom escultor.
E a verdade, é que ele tinha razão. Mas logo eu tratei de diminuir os méritos por outro meio.
– Sim, mas está tão partido, mutilado, falta-lhe um braço, uma perna e nem sequer tem rosto !
– Não tem importância, me respondeu o antiquário – porque tem um magnifico restaurador, amigo meu, que o deixa como novo. Este Cristo, quando restaurado, pode acreditar que é um peça de museu !
E eu tremi, tremi. Ia ficar sem o Cristo outra vez !
E ele o acariciava, não o Cristo, a mercadoria.
E aí começamos a regatear Cristo ! Estremeci de repente no meio do regateio.
Disputávamos o preço de Cristo, como se fosse uma simples mercadoria.
Entendíamos e desentendíamos até Cristo, a luta vil, da oferta e da procura.
É claro que me lembrei de Judas. Não era aquilo também uma compra e venda de Cristo ?
Quantas vezes, compramos e vendemos Cristo ? Não de madeira, de carne. Nele, e no próximo.
A NOSSA VIDA, É MUITAS VEZES, UMA COMPRA E VENDA DE CRISTO !
Resultado: o de sempre. Ambos cedemos e lá concordamos, como Judas e os sacerdotes judeus.
Sem dúvida, mesmo que baixando o preço simulado, o antiquário fez um bom negócio. Entregou-me Cristo meio embrulhado num papel velho e amarrotado que não chegava a envolve-lo todo. Para quantos e diversos embrulhos, teria servido já aquele papel ?
O artista restaurador que me recomendou o antiquário, ficava perto.
Mostrei-lhe o Cristo e aí, começou um novo regateio outra vez. Foi inútil desta vez. Não consegui qualquer desconto. Era mais caro restaurar um Cristo, do que fazer um novo. O costume, que misteriosa e profunda verdade !
Embrulhei outra vez o Cristo, e com ele de novo, debaixo do braço, sai as ruas.
Nesse turbilhão de pessoas, entre empurrões e encontrões, eu defendia meu Cristo. E todo mundo me olhava, porque aparecia dentre o embrulho, o Cristo mutilado.
Me senti culpado, verdugo, profanador, como se tivesse violado o sepulcro de Cristo, e raptado o seu cadáver. E ao olhar os transeuntes admirados, porque levava a descoberto um Cristo Partido, pensei: Será que esses homens e mulheres passeiam pelas ruas um Cristo Partido Invisível ?
Por fim à noite, no meu quarto, me encontrei sozinho, cara a cara com meu Cristo.
Agora eu tinha tempo para contempla-lo e desfruta-lo gostosamente. Agora sim, porque ao fechar a porta do meu quarto, pude também fechar com ela todas as portas das preocupações, compromissos, visitas e chamadas telefônicas. Tudo ficou lá fora, na noite.
Olhei o Cristo despido, livre agora de invólucros.
Que ensangüentado despojo mutilado ! Pobre Cristo ! É, mais um pouco deixaria de ser Cristo ! Mas era meu, eu havia comprado, e quis selar com um beijo, um beijo que apagasse o preço do regateio.
Um beijo, o primeiro de boas vindas aos meus braços, e a minha vida !
Segurei-o entre as mãos e aproximei-o dos lábios. Mas o beijo perguntou-me:
Onde ? Em que parte que não esteja mutilada ? Nunca me atrevi a beijar um Cristo no rosto. Quem é digno disso ? Parece-me repetir o gesto de Judas de novo. Beijo-lhe as mãos, as chagas e ambos os pés, porque quase sempre estão juntos. Com um só beijo, como um só cravo, um só prego, atravesso-lhe os dois pés. Agora porém, faltava-lhe a perna direita e não estava completo o pé esquerdo.
E ali se pousaram os meus lábios. Foi um beijo novo, incomodo, estranho !
Os meus lábios não encontraram o molde conhecido e gostoso dos pés de Cristo, do meu Cristo Partido, ainda que sem rosto, Cristo anônimo, fantasma, era belo, ainda que muito triste…
E assim, com enternecida mágoa, como você está agora, eu o contemplava.
Quem o mutilaria tão cruelmente ? Quantos ? Só Deus tem a estatística completa dos Cristos sacrificados… E assim, transcorria aquela primeira noite de contato, com meu Cristo recém comprado. E num impulso como se me acusasse o meu inconsciente, culpado e traidor, lhe perguntei:
Cristo, quem se atreveu contigo ? Não lhe tremeram as mãos, quando despedaçou as suas, arrancando-lhe brutalmente da cruz ?
Que cara fez, quando partiu a sua ? O que foi feito dele ? Vive ainda ? Arrependeu-se ?
CALA-TE, CALA-TE ! PERGUNTAS DEMASIADO ! Interrompeu-me uma voz clara e cortante.
Compreendi que era a voz do Meu Cristo e contemplei o Meu Cristo procurando os lábios de onde saia a voz.
CALA-TE ! NÃO PERGUNTES MAIS ! Insistia a voz mais funda e sussurrante.
Eu olhava com espanto a superfície lisa do rosto. Mas, que tolo ! Esqueci-me do mais elementar ! Deus não necessita de lábios para nos falar, e nem nós, para falarmos com ele.
Há quem julgue que Deus o ouve melhor porque converteu seus lábios numa
máquina rotineira de…, rezas, muito embora o seu Coração esteja em outro lado. Há quem julgue que não reza, porque não move os lábios e talvez, o seu coração esteja em perpétuo dialogo com Deus.
E com voz suavíssima, mas incisiva e penetrante, Ele me disse:
CALA-TE ! COMO VOCÊS GOSTAM DE JULGAR ! QUANDO SE TRATAM DE PECADOS ALHEIOS, NÃO SE ESGOTA, AS PERGUNTAS E NEM AS CURIOSIDADES.
SE HÁ UM ESC NDALO PUBLICO, LOGO VOCÊS SE APROVEITAM PARA FUGIR DAS RESPONSABILIDADE, MAS, NÃO SABEM, NÃO APRENDEM E ESQUECEM.
COMO SÃO VOCÊS ! VOCÊS ACREDITAM QUE EU TENHO UM CORAÇÃO TÃO PEQUENO E MESQUINHO, COMO O DE VOCÊS, QUE NÃO CONSEGUEM PERDOAR E ESQUECER COMPLETAMENTE ?
CALA-TE ! NÃO ME PERGUNTES, E NEM PENSES MAIS EM QUEM ME MUTILOU. DEIXA-O, RESPEITA-O. PORQUE EU JÁ O PERDOEI, ESQUECI O QUE ELE ME FEZ, E QUANDO UM HOMEM SE ARREPENDE, ESQUEÇO IMEDIATAMENTE. O PERDÔO-O DE UMA SÓ VEZ, NÃO POR MESQUINHAS ENTREGAS, MAS, COM INFINITO ESQUECIMENTO.
Sim Senhor. Ensina-me a esquecer e a perdoar. Mas o meu Cristo continuava falando.
ESCUTA ! POR QUE, POR QUE PERANTE OS MEUS MEMBROS PARTIDOS, INVOCAS AQUELES QUE ME MUTILARAM ? NÃO TE OCORRE RECORDAR, TANTOS, QUE OFENDEM, FEREM, EXPLORAM E MUTILAM OS HOMENS, OS MEUS IRMÃOS ?
QUE PENSAS QUE É PIOR ? MUTILAR UMA IMAGEM DE MADEIRA, OU MUTILAR UMA IMAGEM MINHA, DE CARNE, VIVA, NA QUAL EU PALPITO, POR GRAÇA DO MEU PAI, PELO TEU BATISMO ?
VOCÊ SE ESQUECE QUE TODOS OS BATIZADOS, SÃO AUTÊNTICOS CRISTOS, E UNS AOS OUTROS, VOCÊS ME PREJUDICAM, TRAINDO, ARMANDO CILADAS, PERSEGUINDO, ODIANDO, CRUCIFICANDO !
NÃO É PIOR MUTILAR UM CRISTO VIVO, DO QUE UM CRISTO DE MADEIRA ?
HIPÓCRITA ! RASGAS AS VESTES ANTE A LEMBRANÇA DO QUE MUTILOU A MINHA IMAGEM DE MADEIRA, ENQUANTO APERTAS A MÃO, OU RENDES HONRAS, AO QUE MUTILA FÍSICA OU MORALMENTE, OS CRISTOS VIVOS, QUE SÃO MEUS IRMÃOS !
Eu estava confundido e sem fala. A voz do Cristo, embora num sussurro penetrante, cravava em mim acusadora e me intimidava. E, para sair desse cerco angustioso, ficar bem com meu Cristo Partido, ocorreu-me dizer:
É verdade Senhor. Todos nós Te havemos mutilado milhões de vezes, Perdoa-nos. Mas, eu tive um plano. Mesmo que seja caro, eu vou te restaurar.
E ELE respondeu-me com voz seca e duramente.
NÃO ME AGRADA. ÉS IGUAL A TODOS E FALAS DEMASIADO. NÃO ME RESTAURES, EU O PROÍBO, OUVISTES?
Sim Senhor, Te prometo, não Te restaurarei. Respondi perturbado.
OBRIGADO. Respondeu-me Cristo, acariciando-me com sua voz de suave agradecimento.
Mas, por que não queres que Te restaure ? Não compreendes Senhor, que para mim, será constante dor, ver-te partido e mutilado, cada vez que Te olhar ? Não compreendes que sinto dó ?
Ele respondeu-me:
MAS É ISSO QUE QUERO, QUE VENDO-ME PARTIDO, TE LEMBRES SEMPRE DE TANTOS, QUE CONVIVEM COMIGO, IGNORADOS E DISTANTES, E QUE COMO EU, ESTÃO PARTIDOS, ESMAGADOS, INDIGENTES, OPRIMIDOS, IGNORADOS, DOENTES E MUTILADOS.
SEM BRAÇOS, PORQUE NÃO TEM POSSIBILIDADES E NEM MEIO DE TRABALHO.
SEM PÉS, PORQUE LHES BLOQUEARAM OS CAMINHOS E NÃO PODEM DAR UM PASSO PARA FRENTE NA VIDA.
SEM ROSTO, PORQUE LHES ROUBARAM A HONRA, O MÉRITO E O PRESTIGIO. TODOS OS ESQUECEM E LHES VIRAM AS COSTAS.
NÃO ME RESTAURES. TALVEZ, VENDO-ME ASSIM, TE SIRVA DE LIÇÃO PARA VERES A DOR DOS DEMAIS. HÁ MUITÍSSIMOS CRISTÃOS, QUE SE ENTREGAM A DEVOÇÃO DE BEIJOS, LUZES E FLORES A UM CRISTO BELO, E SE ESQUECEM DOS HOMENS QUE SÃO SEUS IRMÃOS, CRISTOS FEIOS, PARTIDOS E SOFREDORES, E EU, NÃO ACEITO ISSO.
HÁ MUITOS CRISTÃOS QUE TRANQÜILIZAM A SUA CONSCIÊNCIA BEIJANDO UM CRISTO BELO, OBRA DE MUSEU, ENQUANTO OFENDEM, MUTILAM OU ROUBAM, O PEQUENO CRISTO DE CARNE, QUE É MEU IRMÃO.
ESSES BEIJOS ME REPUGNAM. ESSES BEIJOS ME CAUSAM ASCO, OS TOLERO, OS AGÜENTO NOS MEUS PÉS DE IMAGEM TALHADA, MAS, ME FEREM O CORAÇÃO !
UM CRISTO BELO, PODE SER PERIGOSO REFÚGIO, PARA QUE TE ESCONDAS NAS FUGAS DE VER A DOR ALHEIA, TRANQÜILIZANDO
AO MESMO TEMPO, A TUA CONSCIÊNCIA, COM UM FALSO AMOR A DEUS CRUCIFICADO !
Aí, pensei em coloca-lo numa cruz, mas era impossível, porque Ele não tinha a mão direita e faltava-lhe por inteiro o braço direito. Como é angustiante ter um Cristo Partido. Não podia sequer deita-lo na cruz sem a mão direita.
Ocorreu-me perguntar:
Como vais abençoar, Senhor ?
LOUCO ! DEUS TAMBÉM ABENÇOA COM A MÃO ESQUERDA !
E eu pensei: Um Cristo, todo ele, mesmo sem braços, é um infinita benção.
Nós, é que necessitamos de ambas as mãos, para emprega-las teatralmente na grande eloquência de nossos gestos, porque buscamos os aplausos dos demais.
É para aplaudir que faltam as duas mãos.
Todo jogo, toda a ventura divina de nossa vida, está em deixarmo-nos prender pelas mãos de DEUS. ELE prende-nos para fazer-nos SEUS.
Há porém em nós, um elemento difícil, até perigoso, se não soubermos usar, que é a nossa liberdade. Mas Deus a respeita misteriosa e infinitamente. ELE podia apoderar-se de nós, violentando a nossa liberdade. Mas, a ELE, não interessa isso. ELE quer o nosso Amor, por conquista da sua parte, por livre entrega nossa. E para conquistar-nos, ELE dispõe das duas mãos, que representam duas técnicas, e duas táticas opostas.
A mão direita é clara, aberta, luminosa como o Sol, dá a cara, não disfarça e fala com voz calma, e normal, a toda hora.
A mão esquerda, busca atalhos, rodeios, cálculos, diplomacia, e não tem pressa, coloca a luva do disfarce, atua a distância, escondendo-se na sombra. Contudo, ainda que esquerda, não é maquiavélica e nem traidora, porque quem a move é o Amor !
Para cada alma, Deus tem duas mãos. Porem, emprega-as diferentemente, para cada caso, porque todas as almas são diferentes.
CRISTO PARTIDO, que sejamos filhos da Tua mão. Da direita ou da esquerda.
E a cruz, quem a encontrou ?
Todos, bons e maus, santos e criminosos, sãos e doentes.
Não importa que você não acredite nela. A cruz existe assim mesmo.
Não pretendas furtar-se dela. Não se adquire, nasce conosco, e é a mais fecunda e universal semente. Até o tempo da nossa existência, se mede com cruzes, nos mostradores dos relógios, é o seu tempo em cruz, crucificado também. E entre cruzes e cruzes, se plenificam as obras, e o tempo da tua vida.
Sobre o nosso túmulo, florescerá a última verdade da nossa vida. Uma cruz !
E no entanto, lutamos contra ela ! É porque a nossa cruz, é uma cruz solitária.
Portanto, meu amigo, dê-me… dê-me a tua cruz sem Cristo, que eu te dou, o meu Cristo sem cruz.
A perna que falta no CRISTO PARTIDO, é para que você se lembre de deixar a bengala, é porque falta fé em você ! E como falta fé em vocês !
E onde está o rosto de CRISTO ? Partiram a cara de Cristo ! Por que não se deixas ver Senhor ? Ver a cara de Deus, é o sonho de todos os homens ! E o meu CRISTO PARTIDO, me disse então:
VOCÊ NÃO TEM UM RETRATO DO SEU INIMIGO ? ESSE QUE NÃO LHE DEIXA VIVER, ESSE QUE TE INVEJA, DAQUELE QUE … FAZ UM SISTEMA, E DEPURA TODAS AS COISAS, DO QUE SEMPRE, POR TODAS AS PARTES, FALA MAL DE VOCÊ. DO QUE LHE DESPREZA, DO AMIGO TRAIDOR QUE LHE ARMOU UMA CILADA, DO QUE LHE ENGANOU MISERAVELMENTE ?
REPARASTES JÁ NAS CARAS DOS LEPROSOS, DOS ANORMAIS, DOS IDIOTAS, DOS MENDIGOS SUJOS, DOS BÊBADOS ?
VOCÊ TEM QUE ME POR A CARA DE BLASFEMO, A CARA DO SUICIDA, DO CRIMINOSO, DO TRAIDOR, DO LADRÃO, DA PROSTITUTA, DO VICIADO.
SIM, PORQUE É ESSA A MINHA CARA. ESSA CARA É QUE É A MINHA.
E VOCÊ SE ADMIRA QUE EU NÃO TENHA ROSTO ? VOCÊ NÃO VÊ, QUE EU TRAGO A TODOS NO CORAÇÃO ?
E QUE É MAIS… INFINITAMENTE MAIS QUE TRAZE-LOS NO ROSTO, UMA VEZ QUE DEI A VIDA POR TODOS ?
O QUE EU NÃO QUERO É QUE TE ESCANDALIZES, HIPÓCRITA E FARISAICAMENTE !
ENTÃO, QUÃO LONGE ESTAS DE MIM !
QUANDO ME ENTENDERÁS ?
O QUE SABES TU DOS MEUS DESÍGNIOS, E SOBRE TODAS AS ALMAS ?
QUEM PODERÁ ENTENDER DAS INFINITAS LOUCURAS DO MEU AMOR ?
POR ISSO ME TORNEI RESPONSÁVEL POR TODOS OS PECADOS, VÍCIOS E DEGENERAÇÕES DE TODA A HUMANIDADE. AO LONGO DA HISTORIA, CARREGUEI TODAS AS SUAS BLASFÊMIAS, CRIMES E ABERRAÇÕES. TUDO PESAVA SOBRE MIM. E COM TUDO NAS COSTAS, ME PREGARAM NA CRUZ.
O MEU PAI, ASSOMOU-SE PARA VER, E ELE VÊ SEMPRE NOS MEUS OLHOS. EU SOU O ESPELHO, EM QUE CONTEMPLA SATISFEITO.
OH, MEU PAI ! EU SOU O ROSTO DE DEUS, PORQUE EU, NA MINHA CARA, ESTAVA COM TODAS AS CARAS DA HUMANIDADE. PORQUE EU, VOLUNTARIAMENTE, PARA QUE O PAI OS PERDOASSE, DAVA A CARA POR TODOS OS HOMENS, OS MEUS IRMÃOS.
“PAI, PERDOAI-OS, QUE ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM !!!”
E O MEU PAI DISSE : “AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, COMO EU VOS AMO”.
E SINTA QUE NO SEU CORAÇÃO, SEM ÓDIOS, SEM RANCORES, COMEÇA A DESPERTAR O VERDADEIRO AMOR.
Feliz Páscoa!!!